Brasil sobretaxado: Lula diz que haverá resposta a Trump com uso da lei de reciprocidade econômica
09/07/2025
(Foto: Reprodução) Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad estavam reunidos quando a carta de Donald Trump foi divulgada e, logo depois, outros ministros chegaram ao Planalto. Todos saíram sem dar entrevista e, em rede social, o presidente brasileiro defendeu a soberania do país. Trump anuncia tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. Lula reage e diz que adotará lei da reciprocidade
A carta em que Donald Trump defende Jair Bolsonaro e as gigantes da tecnologia menciona ações que tramitam no STF - Supremo Tribunal Federal. Essa intromissão em assuntos tratados pelo Judiciário brasileiro causou espanto entre especialistas em relações internacionais e também no universo político.
Especialistas em relações internacionais classificaram a decisão do presidente Donald Trump como atípica e pouco usual no mundo diplomático. Segundo o doutor em Relações Internacionais Hussein Kalout, ex-secretário especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, a decisão de Trump é uma interferência na soberania do país:
"A carta do presidente Trump é uma carta coercitiva, intimidatória e que foge totalmente ao padrão de como um presidente americano se comporta diante de um país como o Brasil ou da importância do Brasil no contexto hemisférico. Atacar a Suprema Corte brasileira é atacar a Constituição brasileira. Atacar a Suprema Corte brasileira é atacar a democracia brasileira. Atacar a Suprema Corte brasileira é atacar o povo brasileiro. Então, eu creio que esse precedente é um precedente muito grave, porque é um ataque ao Estado brasileiro, à soberania brasileira, e isso é inadmissível”.
Em 2023, o Tribunal Superior Eleitoral tornou o ex-presidente Jair Bolsonaro inelegível por oito anos por abuso de poder político e uso indevido de meios de comunicação. O TSE entendeu que a reunião com embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada, em julho de 2022, teve uso eleitoral. Em depoimento ao STF - Supremo Tribunal Federal, em junho, o ex-presidente admitiu que nunca teve provas de que tenha havido fraude nas eleições.
Bolsonaro também é réu em uma ação no Supremo por tentativa de golpe de Estado em 2022. Segundo a denúncia, ele chefiou uma organização criminosa que planejou impedir que o presidente eleito, Lula, assumisse o poder. Bolsonaro nega as acusações.
Cerca de 40 minutos após o anúncio de Trump, o ministro Flávio Dino afirmou por uma rede social que:
"É uma honra integrar o Supremo, que exerce com seriedade a função de proteger a soberania nacional, a democracia, os direitos e as liberdades, tudo nos termos da Constituição do Brasil e das nossas leis”.
A decisão do presidente dos Estados Unidos causou indignação e espanto nas autoridades brasileiras, no Congresso Nacional e no Executivo.
O presidente Lula convocou uma reunião de emergência para tratar do assunto, no Palácio do Planalto, com os ministros das Relações Exteriores, Mauro Vieira; da Fazenda, Fernando Haddad; da Secretaria de Comunicação, Sidônio Palmeira; e com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin.
Reação Lula
Brasil sobretaxado: Lula diz que haverá resposta a Trump com uso da lei de reciprocidade econômica
Jornal Nacional/ Reprodução
Na noite desta quarta-feira (9), o presidente Lula se manifestou em uma rede social sobre a medida de Trump. A Delis Ortiz tem as informações de Brasília.
A reunião no Palácio do Planalto durou cerca de uma hora. Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, estavam reunidos quando a carta foi divulgada. Logo, os outros ministros chegaram. Todos saíram sem dar entrevista.
Na noite desta quarta-feira (9), o presidente Lula publicou em uma rede social que:
“O Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém. O processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de Estado é de competência apenas da Justiça brasileira e, portanto, não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais”.
Lula afirma ainda que:
“No contexto das plataformas digitais, a sociedade brasileira rejeita conteúdos de ódio, racismo, pornografia infantil, golpes, fraudes, discursos contra os direitos humanos e a liberdade democrática. No Brasil, liberdade de expressão não se confunde com agressão ou práticas violentas. Para operar em nosso país, todas as empresas nacionais e estrangeiras estão submetidas à legislação brasileira”.
A nota prossegue afirmando que:
“É falsa a informação, no caso da relação comercial entre Brasil e Estados Unidos, sobre o alegado déficit norte-americano. As estatísticas do próprio governo dos Estados Unidos comprovam um superávit desse país no comércio de bens e serviços com o Brasil da ordem de US$ 410 bilhões ao longo dos últimos 15 anos. Neste sentido, qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica”.
Ao fim Lula afirma que:
“A soberania, o respeito e a defesa intransigente dos interesses do povo brasileiro são os valores que orientam a nossa relação com o mundo”.
Quando, na nota, o presidente Lula diz que responderá com reciprocidade econômica, isso quer dizer que o Brasil poderá impor as mesmas tarifas aos Estados Unidos. Lembrando que, na carta de Trump, ele já tinha dito que, se o Brasil adotasse a reciprocidade, ele também aumentaria suas tarifas.
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