Mostra inédita em Belém reúne o olhar do premiado fotógrafo japonês Hiromi Nagakura e do líder indígena Ailton Krenak

  • 16/12/2025
Belém recebe a partir desta sexta-feira (19), no Centro Cultural Banco da Amazônia, uma exposição nascida do encontro entre um fotógrafo japonês premiado, que percorreu continentes registrando modos de vida ameaçados, e uma das maiores lideranças indígenas do mundo — Ailton Krenak, escritor e imortal da Academia Brasileira de Letras. Da parceria entre Hiromi Nagakura e Krenak vieram as imagens feitas em anos de viagens e convivência com povos indígenas da Amazônia brasileira, agora apresentadas pela primeira vez na capital paraense. A mostra “Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak” reúne 82 fotografias produzidas entre 1993 e 1998 em aldeias e comunidades indígenas e ribeirinhas. Mais do que paisagens, o que aparece nas imagens são relações, gestos, trabalhos do cotidiano e um jeito de estar no mundo que o fotógrafo aprendeu a enxergar por dentro, guiado pela escuta e pela presença de Krenak. Para as curadoras adjuntas Angela Pappiani e Eliza Otsuka, a chave para entender o conjunto está menos na ideia de “registro” e mais no modo como essas imagens foram possíveis. “A relação de Ailton Krenak com as comunidades indígenas já era uma relação antiga, tanto de trabalho quanto de amizade pessoal com cada um dos povos retratados”, afirma Angela. Segundo ela, esse vínculo foi decisivo para que a chegada da dupla às aldeias fosse natural. “Os dois chegando nas aldeias, essa relação de amizade passava para que o trabalho fosse feito de uma forma muito fluida, muito natural”, completa. Um encontro de olhares, sem exotização O projeto nasce do encontro entre alguém que vem de fora e alguém que carrega, há décadas, uma atuação política e cultural profundamente ligada aos povos originários. E esse diálogo, dizem as curadoras, não aparece como exotização ou contraste, mas como ajuste de escuta. “Elas não são imagens feitas à distância”, resume Eliza Otsuka. “O que conduz o trabalho do Nagakura é a conexão com o ser humano, com a beleza do ser humano, com o que o ser humano tem de melhor.” Para ela, o fotógrafo se deixa atravessar pelo ritmo dos lugares onde esteve. “Ele enxerga esse outro tempo, ele mergulha nesse outro tempo — o tempo da floresta, o tempo da aldeia.” A curadora também faz questão de marcar o que a exposição não pretende ser. “Não é fotojornalismo. Não é documentação etnográfica. É emoção”, afirma. Mesmo quando Nagakura fotografa cenas que poderiam virar um registro técnico — como mulheres ralando mandioca —, o resultado segue outro caminho. “Não é etnográfico. É beleza. É dança. É o jeito que ele enxerga.” Amazônia vista de dentro A exposição reúne imagens feitas em territórios indígenas de diferentes estados, com povos como Ashaninka, Xavante, Krikati, Gavião, Yawanawá e Huni Kuin, além de comunidades ribeirinhas do Rio Juruá e registros no lavrado, em Roraima. As viagens passaram por Acre, Roraima, Mato Grosso, Maranhão, São Paulo e Amazonas. Quando a pergunta é “que Amazônia aparece ali?”, Eliza evita leituras generalizantes. “É a realidade das comunidades, o dia a dia delas, na luta”, afirma. Ela lembra que, nos anos 1990, algumas regiões viviam um momento importante de fortalecimento das identidades indígenas, especialmente no Acre. “O movimento indígena estava se estruturando, os direitos estavam sendo reivindicados.” Angela amplia a leitura ao olhar essas imagens hoje. “Em muitos lugares, a realidade em torno desses povos é pior do que há 30 ou 40 anos. A pressão é muito maior, o desastre é muito pior”, diz. Ainda assim, ela chama atenção para o que as fotos insistem em mostrar. “Esses povos continuam no seu dia a dia, fazendo coisas importantes e bonitas para uma vida harmoniosa com a floresta.” Para a curadoria, o desafio não é a ausência de imagens, mas a ausência de escuta. “A questão é que a gente não percebe, a gente não escuta”, afirma Angela. “Essas fotos contam histórias — e a necessidade é que as pessoas estejam dispostas a ouvir.” Belém como ponto de chegada Depois de passar por São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e Fortaleza, a exposição chega a Belém com um sentido que vai além da itinerância. Para as curadoras, levar o projeto a uma capital amazônica sempre foi parte central da proposta. “Desde o início, a ideia era que a exposição chegasse às cidades da Amazônia”, diz Eliza. “Porque não é cenário, é o ambiente vivo onde esses povos estão.” Ela também aponta um distanciamento que existe mesmo dentro da região. “Ainda há um abismo entre os povos tradicionais e a população urbana dessas cidades.” A aposta da mostra é no encontro. “Essa aproximação é fundamental para perceber esse outro modo de vida e fazer uma aliança”, afirma. “Não é sair apenas informado, mas tocado.” É nesse ponto que entra também o papel do Centro Cultural Banco da Amazônia, espaço que abriga a exposição. Para a gerente executiva de Marketing, Comunicação e Promoção do Banco da Amazônia, Ruth Helena Lima, a mostra dialoga diretamente com a proposta do centro cultural. “A exposição oferece uma experiência que não se limita ao campo da arte. É uma oportunidade de enxergar a Amazônia não como paisagem distante, mas como presença viva”, afirma. Além das imagens, a montagem em Belém inclui a obra “Território imemorial ou Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak” (2023), do artista Gustavo Caboco. O trabalho apresenta um mapa dos territórios visitados por Nagakura e Krenak, funcionando como uma costura visual do percurso que sustenta as fotografias. A programação da exposição também prevê, entre os dias 12 e 14 de janeiro de 2026, visitas e rodas de conversa em Belém com a presença de Ailton Krenak, Hiromi Nagakura e lideranças indígenas. Serviço Exposição: “Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak” Abertura: 19 de dezembro de 2025 (sexta-feira), às 18h Local: Centro Cultural Banco da Amazônia Endereço: Avenida Presidente Vargas, 800, bairro Campina, Belém (PA) Visitação: de 19 de dezembro de 2025 a 22 de fevereiro de 2026 Horários: terça a sexta, das 10h às 19h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 14h Entrada: gratuita Realização: Instituto Tomie Ohtake Patrocínio: Banco da Amazônia e Governo Federal

FONTE: https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2025/12/16/mostra-em-belem-reune-o-olhar-do-premiado-fotografo-japones-hiromi-nagakura-e-do-lider-indigena-ailton-krenak.ghtml


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